No casamento de um dos filhos da Moema, nós, os filhos do Antônio Damo, nos encontramos e, na festa, sentamos juntos e começamos a revirar coisas do fundo do baú da nossa memória. Eis aí então algumas storie e frotole revividas, não necessariamente nessa ordem.
Primeira
Lembramos que, quando o Mauro era criança, chorava por qualquer motivo. A mãe sempre dizia que ele tinha o "piandoto in scarsela" (o chorador no bolso). Desse modo, ficava fácil chorar, porque era só tirar o "chorador" do bolso.
Segunda
Lembramos do Náni Galupo - um vizinho, morador ao sul da nossa colônia, distante uns três quilômetros da nossa casa. Além do Gaetano - o Gaita - ele tinha outro filho, o Juscelino (deveria ser esse o nome). Não sei se ele era o pretendido da Mirta ou se a Mirta era sua pretendida. Mas o que ficou em nossa memória foi a célebre frase: "Juce, Juce, se te maridi com la Mirta de dao la Perica e la Morena" (Juce, Juce, se você se casar com a Mirta, te dou - como dote - a Perica e a Morena) - que eram animais de estimação, não sei se vacas ou mulas.
Ainda com relação ao Náni Galupo, lembramos de uma frase que eu desconhecia, inventada pela Moema na inôcencia de sua idade de menina, mas, se vista por outro prisma, é bem malandra: "Náni Galupo, fica firme, que eu te ocupo".
Terceira
Lembramos do caminhão do pai. Em 1965 ou 66, o pai comprou um caminhão. Ter um veículo automotor era uma grande novidade. As pessoas então comentavam: Lá vem chegando o falado". Sem cerimônia, o pai reproduziu essa frase no parachoque dianteiro do caminhão, como marca registrada do modo de pensar daquelas pessoas.
Quarta
Não sei como, nem por que lembramos de quadrinhas em italiano, enterradas há muitos anos:
A primeira:
"E su e zô pai monti co la musseta bianca
se spaca soto a pança e rabici no gui nê"
Tradução, não literal:
Para cima e para baixo dos montes,
com a mulinha branca,
se arrebentarem os arreios sob a barriga
não há como consertar.
A segunda, lembrada pela Marta:
"E si que la gá el taqueto,
el taqueto metá gamba
e tuti i gue domanda
coza que l´a sá far.
la fá la lavandera
la lava e la sopressa
la mena el cul in pressa
per guardanhar-se el pan.
Tradução:
E sim que ela tem o salto,
um salto muito alto
e todos lhe perguntam
o que ela sabe fazer
ela é lavadora de roupas
ela lava e passa
ela balança o traseiro
para se ganhar o pão.
Essas últimas quadrinhas (muito antigas, lá do folclore italiano) traduzem a preocupação pela origem dos sinais de riqueza da moça, externados pelo salto alto do sapato. Porém, seu ofício é sério e contínuo: lavar e passar para ganhar a vida e sobreviver com dignidade.
OUTRAS STORIE E FROTOLE
E assim, como as filhas do Toni Damo, muitos filhos têm as suas histórias. Remexa suas memórias, revire o fundo do baú e escolha algumas Storie e Frotole para serem contadas no III Encontro da nossa família.
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